segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O beijo

Carlos virou o rosto no instinto. Não vira! Virou. Estrondo. Cheiro de pólvora. Escuridão.
Cintia corria atrasada pro trabalho. Pena que o Corsa vinha com uma pressa maior ainda. A dor do choque veio e sumiu em uma fração de segundo apressado.
Antônio saiu do bar às cinco. Se despediu dos colegas e foi andando em linha não tão reta na direção do bueiro aberto. Nem doeu.
Outro Antônio levantou pra pegar mais uma gelada. Deve ter levantado rápido demais porque não manteve o equilíbrio e desabou ali mesmo no tapete da sala. Sem ar pra emitir som ficou ali deitado babando enquanto a dor lacerante no peito ia lenta devorando seu braço esquerdo.
Isadora completou seis aninhos de idade hoje. A mãe virou por um instante, perdida nos preparativos na festinha da piscina. Foi o suficiente pra pequena mergulhar pra sempre na curiosidade da profundeza azul. 

Jean ficou ali olhando pra imensidão da Baía por uma boa meia hora. Os bombeiros vinham com cautela tentando conversar. Mas ele não queria conversa. Afinal o que ele queria mesmo? Já nem sabia mais. Quando resolveu dar a mão ao bombeiro, um pé de vento tirou o equilíbrio dos dois. Quem diria que a água vira uma parede de concreto naquela velocidade.
Vinicius tirou a mão do volante rapidinho pra responder o Whatssapp. O clarão do farol do caminhão foi a ultima coisa que chegou a sua retina antes das ferragens atravessa-la.
Samir ficou sem reação após o sacrifício humano que acabara de realizar. Esperava algo grande como tempestades, ventanias sobrenaturais e coisas assim. Mas nada sucedeu. Juntou os artefatos espalhados no chão do cemitério e se preparava pra ir. A mão em seu calcanhar puxou-o violentamente. A Criatura havia chegado. Cheia de gratidão e sede.
Litia evitava passar pela praça ao voltar do trabalho, apesar de ser o caminho mais rápido. Sempre juntava um bando de homem no bar da esquina pra mexer com ela. Contrariada, atravessou a rua pra contornar a praça e chegar em casa. Do beco escuro, um braço forte a arrastou em sua direção. Tapou sua boca e arrancou sua saia. O corpo de Litia sobreviveu. Mas o interior morreu e Litia acabou, sem querer, entrando nesta história.